“E nenhum Grande Inquisidor tem prontas tão terríveis torturas como a ansiedade tem; e nenhum espião sabe como atacar mais inteligentemente o homem de quem ele suspeita, escolhendo o instante em que ele está mais fraco; ou sabe onde colocar armadilhas em que ele será pego e enredado, como ansiedade sabe, e nenhum juiz é mais esperto e sabe interrogar melhor, examinar, acusar como ansiedade sabe, e nunca o deixa (a vítima) escapar, nem através de distrações, nem através de barulhos, nem divertindo, nem brincando, nem de dia nem de noite …” (Soren Kierkegaard, The Concept of Dread)
O agente deflagrador da crise de pânico não se encontra em fatores externos: a ameaça está dentro do próprio paciente.
As pessoas que apresentam sintomas de ataque de pânico passam por uma série interminável de consultas e exames, mas não tem sua doença diagnosticada. Três quartos das pessoas com distúrbio mental não estão onde deveriam estar, ou seja, nos consultórios de psicólogos ou psiquiatras. Ao invés disto estão nos consultórios de cardiologistas, neurologistas ou/e outros especialistas. Invariavelmente ocorre a demora no diagnóstico do transtorno de pânico, atrasando e dificultando seu tratamento.
A doença possui quadro clínico como sintomas físicos de origem emocional. O Transtorno do Pânico normalmente atinge as pessoas na faixa etária dos 20 aos 40 anos e que se encontram na plenitude da vida profissional.
De acordo com uma das teorias, o sistema de “alerta” normal do organismo – o conjunto de mecanismos físicos e mentais que permite que uma pessoa reaja a uma ameaça – tende a ser desencadeado desnecessariamente na crise de pânico, sem haver perigo iminente. Constatou-se que o T.P. ocorre com maior freqüência em algumas famílias, e isto pode significar que há uma participação importante de um fator hereditário (genético) na determinação de quem desenvolverá o transtorno. Entretanto, muitas pessoas que desenvolvem este transtorno não têm nenhum antecedente familiar.
O diagnóstico baseia-se nos seguintes critérios definidos pelo Manual de Diagnósticos e Estatística das Doenças Mentais (DSM-IV):
Ataques de Pânico recorrentes e inesperados.
Critérios para o Ataque de Pânico:
Um curto período de intenso medo ou desconforto em que 4 ou mais dos seguintes sintomas aparecem e alcançam o pico em cerca de 10 minutos.
- Sudorese;
- Palpitações e taquicardia;
- Tremores ou abalos;
- Sensação de falta de ar ou sufocamento;
- Sensação de asfixia;
- Dor ou desconforto torácico;
- Náusea ou desconforto abdominal;
- Sensação de instabilidade, vertigem, tontura ou desmaio;
- Sensação de irrealidade (desrealização) ou despersonalização (estar distante de si mesmo);
- Medo de morrer;
- Medo de perder o controle da situação ou enlouquecer;
- Parestesias (sensação de anestesia ou formigamento);
- Calafrios ou ondas de calor.
Pelo menos um dos ataques ter sido seguido por um mês ou mais das seguintes condições:
- Medo persistente de ter novo ataque.
- Preocupação acerca das implicações do ataque ou suas conseqüências (isto é, perda de controle, ter um ataque cardíaco, ficar maluco).
- Uma significativa alteração do comportamento relacionada aos ataques.
O ataque de pânico não ser devido a efeitos fisiológicos diretos de substâncias (drogas ou medicamentos) como álcool, cocaína, crack, cafeína, ecstasy etc
Os ataques de pânico não devem ser conseqüência de outra doença mental, como fobia social (exposição a situações sociais que geram medo), Fobia Específica (medo de avião, de elevador, etc …) Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Pós-Traumático ou de Separação.
Geralmente são pessoas extremamente produtivas profissionalmente, costumam assumir uma carga excessiva de responsabilidades e afazeres, são bastante exigentes consigo mesmos, não convivem bem com erros ou imprevistos. São pessoas que não se vêem sensíveis aos problemas da emoção, julgam-se perfeitamente controladas, dizem que já passaram por momentos de vida mais difíceis sem que nada lhes acontecesse, enfim, são pessoas que até então subestimavam quem sofria de problemas psíquicos.. Têm tendência a se preocuparem excessivamente com problemas cotidianos, alto nível de criatividade, perfecionismo e excessiva necessidade de estar no controle.Tem expectativas pessoais extremamente altas, pensamento rígido, tendência a ignorar as necessidades físicas do corpo, entre outras.
Essa forma de ser acaba por predispor estas pessoas a situações de stress acentuado, fato este que pode levar ao aumento intenso da atividade de determinadas regiões do cérebro, desencadeando assim um desequilíbrio bioquímico e conseqüentemente o aparecimento do T.P.
Todos estes aspectos da personalidade do indivíduo estão relacionados a uma rigidez muito grande e necessidade de controle.
O mais importante e mais difícil problema a ser resolvido em relação ao tratamento da Transtorno do Pânico é, exatamente, convencer o paciente de que seu problema é emocional e que tem tratamento.
A origem da palavra vem da mitologia. Pãnico significa o medo que vem de Pã.
Pã – “etimologicamente, significa tudo, e esta divindade seria, então, a encarnação do universo todo, um símbolo da vida nova e fecundidade”. [1]
Deus da mitologia Grega, que é descrito como uma figura monstruosa e assustadora, representada por uma mistura de bode com homem: Barbudo, chifrudo, peludo, vivo, ágil, rápido e dissimulado, ele exprime a astúcia bestial.
Seu nome, Pã, que significa “tudo”, lhe foi dado pelos deuses, não somente porque em uma certa medida todos se assemelham a ele por sua avidez, mas também porque ele encarna uma tendência própria de todo o universo. Ele seria o Deus do Tudo, indicando, sem duvida, a energia da vida e de Deus.
Esse deus representa a divindade pastoral grega e vivia confinado nas montanhas da Arcádia, uma das regiões mais primitivas da Grécia. Se divertia aparecendo subitamente na presença de pessoas que passavam por essa região, causando-lhes uma reação de medo intensa, isto é, pânico, como já foi dito. Os atenienses erigiram um santuário ao deus Pâ, perto da praça pública (ágora); algumas pessoas tinham medo (phobos) de freqüentar esse lugar – daí a origem do termo agorafobia, para designar o medo de lugares públicos. A agorafobia é uma das mais freqüentes complicações e limitações que o pânico impõe ao indivíduo.
Pã deu o seu nome a palavra pânico, por infringir esse terror que se espalha em toda a natureza e em todo ser, ao sentirem a presença desse deus, que perturba o espírito e enlouquece os sentidos.
“O deus Pã. da Arcádia, é o mais conhecido exemplo clássico da presença perigosa que habita pouco além da zona protegida das fronteiras da cidade (…) A emoção que ele instalava nos seres humanos que acidentalmente se aventurassem em seus domínios era o “pânico”, um medo súbito e sem razão aparente. Assim sendo, qualquer coisa insignificante – a queda de um galho, a queda de uma folha,- enchia a mente de um perigo imaginário, e a vitima, no frenético esforço para escapar do seu próprio inconsciente agitado, morria de terror.” [2]
É uma divindade, que representava a natureza, e era relacionada com a fertilidade da terra e com a luxúria em seu estado mais bruto. Representava a besta, que existe nos homens e que precisa ser colocada a serviço do crescimento humano, transcendendo sua natureza de fera.
O Pã tanto representa a fertilidade da terra como a luxúria. É uma energia latente que precisa ser colocada a serviço do crescimento humano. A besta pode ser tanto energia que aflora na sexualidade como energia vital criativa que é fecunda e natural e ambas funcionam como pontes entre razão e emoção.
Para os seres desavisados, as emoções são ameaçadoras. O Pã está intrinsecamente ligado a provocar emoções. Emoções de forma descontrolada que caminham para o desespero e o medo. O medo sem razão e o medo de perder a razão, medo de tudo e de todos.
Pequenas coisas como: o cair de uma folha, ir a rua, entrar num elevador, etc, se transformam no imaginário destas pessoas em algo muito perigoso. Assim a pessoa se torna aterrorizada pelas imagens de seu próprio inconsciente.
O pânico é o medo que paralisa. Mas medo, ansiedade, stress em pequenas doses são necessários no aparelho psíquico para proporcionar movimentação e motivação na vida do indivíduo. O pânico é a expressão maior de ansiedade. Como fala Tereza Aquino em seu texto sobre TP: Ansiedade refere-se a ativação do organismo. Diz respeito a vitalidade, ao anímico (alma), envolvendo o somático (corpo) e o psíquico é uma espécie de costura entre alma e corpo.
Perder a medida da ansiedade, medo ou stress é perder a arte de viver. É ultrapassar uma linha divisória entre o salutar e a doença. Isto ocorre justamente porque na correria do dia-a-dia com nossas cobranças pessoais, profissionais, e familiares esquecemos de nós mesmos; de nos percebermos.
“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses” [3] e não “controla te a ti mesmo”. É necessário expressar as emoções ligadas à ansiedade do dia a dia para não transformá-las em patologia.
A ansiedade é subjetiva e depende, para se tornar doença, da vivência de cada um. Suas experiências internas e de como você recebe e articula a enorme quantidade informações do mundo que absorvemos diariamente. Trabalhando o mecanismo psíquico que envolve mente, corpo e alma, podemos decodificar melhor as experiências interiores (emoções e ações) e as experiências exteriores e corporais. Associando assim a relação com o mundo e as percepções do mesmo, podemos controlar melhor o nosso nível de ansiedade.
A ansiedade é uma resposta tanto física quanto psíquica à impossibilidade de lidar com fatores que desestabilizam o indivíduo. Existem fatores externos (no meio-ambiente) e internos sentidos no corpo através de manifestações como a taquicardia e a falta de ar. A patologisação da ansiedade leva ao indivíduo sentir os estímulos físicos e psíquicos ligadas a ela como medo e impossibilidade de vida.
No caso do transtorno de pânico a ansiedade é levada a um grau acentuado e se transforma em crises e ataque (como descrito acima no diagnóstico). Após as primeiras crises o indivíduo desenvolve medo dos locais nos quais teve o ataque e passa a evitá-los numa tentativa desesperada de cessar os ataques. Desenvolvem-se assim outros tipos de fobia, como a agorafobia.
É de extrema importância no tratamento de pânico levar o indivíduo a decodificar sua relação com os problemas do dia-a-dia, articulando sua forma de agir e pensar para melhor reagir aos estímulos externos. Por exemplo, muitas vezes uma personalidade rígida tende a querer controlar tudo que acontece a sua volta abrindo assim uma janela para estar sempre em situação de alerta.
No nosso cotidiano recebemos muitas informações com as quais temos que lidar com rapidez e agilidade, o que ocasiona uma auto-exigência muito grande. Aumentamos, de forma geral, os níveis de expectativa com relação ao nosso rendimento.
Ao procurar a psicoterapia, o indivíduo deve levar em conta que é necessário estar disponível para se re-significar e decodificar o lidar com a vida de forma total. Um psicólogo que estude sobre a interação mente/corpo poderá ajudá-lo da forma mais eficaz, pois irá olhar além dos sintomas e analisar o indivíduo como um todo.
O corpo e psique não estão separados, por esta razão é importante simbolizar o que ele fala, trabalhar as fantasias e as imagens inconscientes, decodificá-las de forma a trazer a consciência os complexos, os aspectos mais obscuros da personalidade do indivíduo.
Sintomas como fobias , ataques de pânico, ansiedade severa, etc. são a ponta de um iceberg, um pedido de socorro.
Na psicoterapia o tratamento psíquico é determinado, sobretudo, pelo encontro humano entre terapeuta e paciente. É baseado num diálogo aberto e confiável. Os dois, em parceria, contribuem de forma holística para uma relação dialética, comunicando abertamente suas sensações e sentimentos, bem como os pensamentos e as idéias que lhes ocorrem. Com auxílio de hipóteses e da intuição, ambos seguem o rastro das possibilidades de desenvolvimento e das soluções para os conflitos. A psicoterapia tem por objetivo transformar estados psíquicos desorganizados em vivências de bem estar (adequação à vida). A psicoterapia, segundo a concepção Junguiana, deve levar em consideração as múltiplas experiências psíquicas, bem como questões de cunho econômico, político, filosófico e religioso.
Mas como o processo terapêutico funciona? Que instrumentos possui o terapeuta para ajudar seus pacientes?
Iremos falar dos métodos e técnicas utilizados na análise junguiana e como estes auxiliam na melhora do paciente. Através das técnicas associação de palavras, interpretação e amplificação dos sonhos e imaginação ativa, pretende-se analisar as experiências inconscientes e os processos psíquicos do passado ou do presente. Em uma relação emocionalmente carregada e de grande confiança, os conflitos inconscientes são descobertos, trabalhados e resolvidos. A análise junguiana é, sobretudo, um processo dialético, no qual não somente o paciente tem a contribuir, mas também no qual o terapeuta participa com suas experiências psíquicas.